Redes Sociais – uma utilização consciente

O uso desregrado das redes sociais tem potencial para afetar a nossa saúde.

O uso desregrado das redes sociais tem potencial para afetar desfavoravelmente a nossa saúde física, bem-estar psicológico e vida em sociedade. Importa, pois, conhecer os riscos para os podermos minimizar.

Redes Sociais e Sedentarismo: parar é morrer

A participação nas redes sociais através de dispositivos eletrónicos pode levar o utilizador a ficar sentado bastante tempo, promovendo o sedentarismo; isto aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e outros problemas de saúde que reduzem a esperança de vida.

Recomenda-se, assim, que a adoção das redes sociais se enquadre num estilo de vida ativo.

Luz azul: da fadiga visual digital às perturbações do sono

A fadiga visual digital designa um conjunto de sintomas oculares e visuais associados ao uso prolongado de dispositivos com ecrãs emissores de luz azul, como computadores, tablets e smartphones

Os sintomas incluem sensação de peso/ cansaço ocular, visão turva, lentidão de focagem, olhos secos, sensação de corpo estranho, irritação/ardor ocular, olho vermelho, lacrimejo, intolerância às lentes de contacto, dores de cabeça, no pescoço e ombros.

A literatura científica revela que a exposição excessiva à luz azul, ao imitar a luz natural e induzir o nosso organismo a julgar que ainda é dia, pode também prejudicar o ritmo circadiano, tornando mais difícil o adormecer bem como a manutenção do sono. 

Aconselham-se por isso pausas durante a atividade com dispositivos eletrónicos emissores de luz azul – pelo menos duas pausas de 20 segundos a cada hora -, evitar o uso desses dispositivos à noite e ativar funcionalidades que neutralizem a emissão de luz azul. 

Igualmente importantes são as medidas de higiene do sono, uma vez que alguns utilizadores das redes sociais tendem a desenvolver hábitos de sono não saudáveis, o que os torna vulneráveis a diversas complicações de saúde.

Perturbações psicológicas: do medo de ficar de fora ao paradoxo da solidão nas redes sociais

As redes sociais podem também ser prejudiciais ao nosso bem-estar psicológico. 

Veja-se por exemplo a síndrome de FOMO (do inglês: Fear Of Missing Out), o medo de perder algo ou de ficar de fora do mundo virtual, ou o impacto da pressão dos pares e do cyberbullying

Efetivamente,  a pressão exercida nas redes sociais pode revelar-se mais esmagadora do que em qualquer outro ambiente e desencadear mesmo problemas de ansiedade ou depressão.

O uso destas redes – e as vidas “perfeitas” que muitas vezes nelas se retratam – foi identificado como desencadeador de insegurança e angústia, sobretudo em pessoas vulneráveis, como os jovens, que se sentem pressionados a “fazer as coisas acontecerem” nas suas vidas para acompanhar a vida aparentemente idílica dos seus colegas e amigos. 

Paradoxalmente, as redes sociais podem promover um maior isolamento de alguns utilizadores, fruto de uma utilização passiva, em que visualizam conteúdos, mas não se publica nada, e/ou da falha no cultivar de interações significativas na vida real. 

Curiosamente, alguns estudos apontam para um risco aumentado de depressão associado ao uso excessivo das redes sociais, em indivíduos suscetíveis.

Outros estudos sugerem mesmo que estas redes nos podem tornar menos sociáveis; um dos motivos apresentados resulta do uso compulsivo das redes sociais, negligenciando interações cara a cara e outras responsabilidades, com efeitos negativos na saúde e no bem-estar das pessoas – o que caracteriza uma dependência.

Outra razão apontada é a utilização das interações digitais como um substituto para o contato e interação reais, seja por estarem empenhados em estar a par do que acontece na vida dos amigos digitais, por julgarem que estes já publicaram tudo online ou porque a interação digital é mais fácil. 

Procrastinação: quando amigos, família e trabalho ficam para depois

Por último, se pensarmos quantas vezes olhamos para o nosso telemóvel durante o dia, facilmente damos conta de como as redes sociais são frequentemente um fator de distração, com implicações diversas na atenção que damos a uma conversa com um colega de trabalho ou quando vamos a conduzir, por exemplo. 

O tempo despendido na sua utilização pode também significar a perda de oportunidades para estar com a família.

Podem ainda tornar-se algo a que recorremos para evitar certas tarefas ou responsabilidades, numa atitude de recorrente protelar de deveres, com impacto académico negativo e menor produtividade profissional. 

De forma a evitar estes problemas, pondere desabilitar as notificações e reservar apenas um ou dois momentos por dia para participar nas redes sociais, sem ultrapassar o tempo por si estabelecido.

Assim, o uso criterioso e ponderado das redes sociais é fundamental para que o proveito para a nossa saúde supere os riscos que se lhe conhecem.

Por: Dr. Luís Pinho Costa


Médico Especialista em Medicina Geral e Familiar
OM 53312
Entusiasta da transformação digital dos cuidados da saúde

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