A importância da contenção social
Estamos a lidar com uma doença sem precedentes. A COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, manifesta-se muitas vezes com um quadro ligeiro, mas tem também o potencial de matar.
Estima-se que a sua taxa de letalidade seja no mínimo 6 vezes superior à da gripe comum, sendo cerca de duas vezes mais transmissível.
A Organização Mundial de Saúde afirma que é 10 vezes mais letal que a gripe suina de 2009 (H1N1). É uma doença mais grave, mais contagiosa, e não existe vacina nem tratamento dirigido conhecido.
A doença transmite-se através de pequenas gotículas libertadas pelas pessoas infectadas, especialmente quando tossem, ou por contacto directo com superfícies onde essas gotículas estão depositadas, se em seguida forem levadas ao nariz ou à boca.
Essa transmissão pode ocorrer mesmo enquanto a pessoa infectada não tem sintomas. É por isso que é tão importante lavar bem as mãos com frequência. Estima-se que cada pessoa infectada contagia, em média, outras 2-3 pessoas.
Sabemos que cerca de 80% dos infectados desenvolvem sintomas ligeiros a moderados e 20% requer cuidados hospitalares (15% internamento geral e 5% cuidados intensivos).
Significa que bastaria um quarto da população portuguesa contrair a doença para que 125 mil pessoas fossem internadas nos cuidados intensivos. Portugal tem de base cerca de 1400 ventiladores pulmonares, agora perto dos 3 mil, ainda assim insuficientes perante tal cenário.
Uma propagação tão rápida, incontida, ocasionaria um número tão grande de casos que os serviços de saúde perderiam a capacidade de tratar adequadamente os doentes.
No ano passado a gripe infectou mais de um quarto da população portuguesa matando cerca de 3 mil pessoas. Nas mesmas condições, a COVID-19 causaria um número muito maior de mortes.
Perante um inimigo tão difícil, a única arma que nos resta é adoptar medidas de contenção e distanciamento social, tal como aplicado com sucesso na pandemia de 1918 (Gripe Espanhola). Menos contactos significa menos transmissão do vírus e portanto, uma redução do número de infetados.
Com estas medidas não se pretende a erradicação da doença, mas sim atrasar o pico da pandemia, permitindo aos serviços de saúde manterem-se capacitados para a prestação de cuidados adequados, e simultaneamente, dando tempo à comunidade científica para desenvolver uma vacina ou tratamento eficazes.
As medidas incluem o fecho das fronteiras, restaurantes, bares, discotecas, mas também a alteração do comportamento comunitário.
A luta contra a COVID-19 é uma luta de todos: ficar em casa exceto se absolutamente necessário, optar pelo teletrabalho, fazer compras por encomenda, evitar espaços públicos, manter a distância social de pelo menos 2 metros, tossir ou espirrar para o braço, higienizar as mãos com frequência, usar máscara correctamente…
Quanto mais eficazes e persistentes formos nestas medidas, mais depressa poderemos retomar a normalidade. Menos vidas perdemos pelo caminho. É um esforço comum em prol do bem comum. Em nome das nossas famílias, amigos e daqueles entes queridos mais vulneráveis.
É uma luta difícil mas possível. Ficar em casa custa, mas é muito mais fácil do que ir para a guerra. Esta é a nova guerra, e é uma guerra de todos. Mantenham-se em casa. Vamos conter a COVID-19.
Por: Luís Seixas | Médico de Família