Porque me devo vacinar?

Ao longo dos séculos, a humanidade enfrentou numerosas doenças infecciosas, isto é, doenças causadas por bactérias, vírus, fungos e parasitas.

Até ao século XIX, pouco mais se fazia para além de confiar na capacidade para combater a infecção por parte do sistema imunitário da pessoa infectada (as suas defesas).

No entanto, essa capacidade é frequentemente insuficiente e a letalidade de doenças hoje consideradas banais, como a otite média, era muito elevada, isto é, estas doenças matavam muitas pessoas.

Em 1928, o cientista Alexander Fleming descobriu a penicilina, o primeiro antibacteriano. Foi o princípio de uma nova era no tratamento das infecções.

Mas será que a comunidade científica poderia fazer melhor do que tratar infecções? Por que não tentar evitar que a pessoa fosse sequer infectada?

Como é que se consegue evitar uma infecção?

Para além dos cuidados de higiene (cuja importância esta pandemia nos tem recordado), pode-se evitar infecções expondo o corpo humano à bactéria ou vírus, de forma controlada, para que este desenvolva anticorpos e outros agentes de combate ao organismo em causa.

Após um primeiro contacto com o agente infeccioso, o organismo será capaz de desenvolver uma resposta mais rápida, forte e eficaz em contactos subsequentes com a bactéria ou o vírus. É este o princípio da vacinação.

Ainda não existem vacinas disponíveis contra fungos ou parasitas.

Quais foram as primeiras vacinas?

A primeira vacina foi criada ainda antes da descoberta da penicilina, em 1798, e protegia contra a varíola, uma doença grave e muito temida desde a Antiguidade.

As campanhas de vacinação instituídas permitiram erradicar esta doença durante o século XX; o último caso conhecido aconteceu em 1978, na Somália.

Quase um século depois, em 1897, Louis Pasteur desenvolveu uma vacina contra a cólera (uma doença das aves causada pela bactéria Pasteurella Multocida) e, em 1904, uma vacina contra o antraz, uma doença bacteriana grave. Seguiram-se muitas outras.

Como era o mundo antes do surgimento das vacinas?

Era um mundo em que a taxa de mortalidade infantil era muito elevada e em que a esperança média de vida era baixa.

E nem os ricos escapavam a doenças hoje consideradas evitáveis: a rainha D. Estefânia morreu em 1859, aos 22 anos, vítima de difteria, uma doença cuja vacina faz parte do Programa Nacional de Vacinação desde a sua criação, em 1965.

Que vacinas estão disponíveis em Portugal?

Doenças para as quais existe pelo menos uma vacina disponível em Portugal. /
PNV – Programa Nacional de Vacinação
Fontes de informação: Programa Nacional de Vacinação da Direcção-Geral da Saúde e Prontuário Terapêutico do INFARMED.

Como posso aceder às vacinas?

As vacinas incluídas no Programa Nacional de Vacinação são administradas de modo gratuito nos centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde.

Algumas das vacinas recomendadas aos viajantes estão disponíveis nos Centros de Vacinação Internacional.

A prescrição de uma vacina é um acto médico. Apenas deve tomar uma vacina se esta tiver sido recomendada por um médico. As vacinas devem ser administradas por enfermeiros.

As vacinas são só para crianças?

Não. A maioria das vacinas constantes do Programa Nacional de Vacinação são administradas durante a infância e adolescência.

Dentre as vacinas incluídas neste programa, a vacina contra o tétano e a difteria é a única que deve ser tomada também durante a idade adulta.

No entanto, os seus médicos poderão recomendar-lhe vacinas não constantes do Programa Nacional de Vacinação em qualquer fase da sua vida.

Quero proteger-me ao máximo. Devo tomar todas as vacinas disponíveis?

Não. As vacinas incluídas no Programa Nacional de Vacinação deverão ser administradas a todos os cidadãos, salvo raras excepções.

As restantes vacinas são recomendadas caso a caso, consoante as características e as necessidades de saúde da pessoa em questão.

As vacinas são seguras?

SIM! As vacinas (assim como os medicamentos e outras formas de tratamento) são o resultado de anos de investigação.

Essa investigação inclui fases em que as vacinas são administradas a voluntários, que são monitorizados por longos períodos.

Esses intervalos de vigilância visam perceber se a vacina em estudo (i) cumpre aquilo para que foi desenhada (prevenir o desenvolvimento da doença em causa) e (ii) é segura (não causa danos à saúde da pessoa que recebeu a vacina).

Tendo em conta que as vacinas serão administradas a pessoas que não têm essa doença, a comunidade científica e as entidades reguladoras são particularmente exigentes quanto à sua segurança.

Com efeito, não seria legítimo que algo desenhado para prevenir uma doença pudesse causar dano.

No entanto, como qualquer outro medicamento, tratamento ou dispositivo, as vacinas podem ter efeitos laterais. Infelizmente, como em tantos outros aspectos da vida, não existe risco zero.

Os efeitos laterais mais frequentes são ligeiros, nomeadamente o desenvolvimento de uma reacção (inchaço, vermelhidão e/ou dor) no local da injecção.

As reacções graves são raras ou muito raras e os serviços de saúde estão preparados para as detectar e tratar.

Mas eu ouvi dizer que as vacinas causam autismo.

Em 1998, a equipa liderada pelo médico Andrew Wakefield publicou um artigo na conceituada revista científica The Lancet, lançando a hipótese de a vacina contra a rubéola, sarampo e parotidite epidémica (papeira) se poder associar a alterações no comportamento das crianças vacinadas.

Este artigo foi posteriormente considerado especulativo e fraudulento e Andrew Wakefield foi expulso do General Medical Council do Reino Unido, organização equivalente à Ordem dos Médicos. Infelizmente, a desinformação já estava lançada.

As vacinas NÃO causam autismo. Continuamos sem saber ao certo a causa desta doença tão dura e desafiante, mas sabemos que as vacinas NÃO desempenham qualquer papel no seu surgimento ou agravamento.

Também ouvi dizer que as vacinas contêm químicos tóxicos.

Assistimos, em segmentos da nossa sociedade, a um desejo de regresso a uma vida mais simples e com menor intervenção de produtos processados.

Muitas vezes, esta questão coloca-se sob o prisma “natural” versus “artificial” ou “químico”.

Este desejo é legítimo e poderá ser positivo, mas devemos ter em consideração que “natural” nem sempre equivale a saudável, positivo ou benéfico e que “artificial” ou “químico” nem sempre implica que o produto em causa seja tóxico ou prejudicial.

As vacinas contêm, para além do vírus ou bactéria (ou seus fragmentos) para os quais visam conferir imunidade, componentes que permitem a sua conservação segura.

Já no século XVI, dizia o médico Paracelso que “só a dose faz o veneno”. Apesar de algumas destas substâncias terem toxicidade potencial, são usadas em quantidades tão reduzidas que não existe prova de que causem dano.

Conclusão

As vacinas são uma forma eficaz e segura de nos protegermos contra doenças potencialmente muito graves.

Em caso de dúvida, não precisa de tomar decisões sozinho: aconselhe-se junto do seu médico assistente.

Por: Mariana Fidalgo Leite | Médica especialista em Medicina Geral e Familiar

Doenças do sistema imunitário, Doenças Infeciosas, Medicina de viagem, Sistema imunitário

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